Em 17 de janeiro de 2020, o famoso jornal norte-americano New York Times publicou um artigo no qual o autor dizia que os pais não devem se preocupar com quanto tempo seus filhos passam usando a tecnologia, como o uso de celular, tablet e computador.1)Popper N. Panicking About Your Kids’ Phones? New Research Says Don’t. The New York Times, Jan. 17, 2020 Isso porque, pelo menos de acordo com alguns especialistas, muito tempo de tela não está relacionado à sua saúde e bem-estar. Será verdade isso?
Outro dia, li uma frase de alguém que disse que muitas vezes a única verdade que existe num jornal é a data. Vamos dar uma analisada nesse assunto para ver se realmente faz sentido, o que foi publicado no New York Times sobre a avaliação da Dra. Jean Twenge, que é professora de psicologia da Universidade Estadual de San Diego, na Califórnia, nos Estados Unidos, e autora de um livro chamado “iGen: Por que as crianças superconectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e totalmente despreparadas para a vida adulta.”2)Twenge J. iGen: Por que as crianças de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas para vida adulta. Editora nVersos Esse novo livro é fruto de uma investigação baseada em pesquisas e entrevistas envolvendo 11 milhões de jovens e nos oferece uma reflexão sobre a crescente geração atual de adolescentes e jovens adultos, nascidos em meados da década de 1990 até os anos 2012.
O título do livro, ” iGen”, tem a letra “i” no início, significando internet. Essa professora universitária faz uma análise desses milhões de jovens que cresceram tendo em mãos celulares, contas e redes sociais antes mesmo de começar o ensino médio. Então, o jornal New York Times publicou que os pais não devem se preocupar com quanto tempo seus filhos passam usando a tecnologia, como celular, tablet, computador, porque, pelo menos de acordo com algum especialista, muito tempo de tela não está relacionado com a saúde e bem-estar dessas crianças e jovens.
Você acha que essa informação é correta ou pensa que é difícil aceitá-la? Se você acha difícil aceitar isso como verdadeiro, você está certo. Várias declarações do autor do artigo daquele jornal famoso são erradas, enganosas ou as duas coisas. Vamos dar uma olhada em declarações que ele fez, esse jornal fez, que contêm erros vergonhosos, segundo a Dra. Jean Twenge.
Em primeiro lugar, o artigo faz uma deturpação grosseira sobre o consenso de pesquisa quanto ao uso de tecnologia e saúde mental. O autor deu a entender que a maioria dos pesquisadores concluiu que o uso da tecnologia não está relacionado à saúde mental. Mas não é isso. O seu artigo no jornal New York Times não mencionou muitos artigos de revistas médicas que encontraram ligações substanciais entre o uso da tecnologia e a saúde mental. Esses estudos foram publicados na revista de psiquiatria da Associação Médica Americana, na revista de Pediatria da Associação Médica Americana, na revista Lancet de Medicina Clínica e na revista Lancet Saúde da Criança e do Adolescente.
A Dra. Jean, da Universidade Estadual de San Diego, autora desse relato que estou apresentando para você, diz que o New York Times nem mesmo mencionou os melhores estudos elaborados de periódicos médicos, e o mais intrigante ainda, é que ela já havia fornecido ao repórter uma lista detalhada. Em segundo lugar, o artigo do jornal também deturpa uma revisão recente de estudos sobre o tempo gasto com eletrônicos e a saúde mental. O autor mencionou que a ligação entre o uso das mídias sociais e sintomas depressivos está entre 0.11 e 0.17, concluindo que são efeitos pequenos. A Dra. Jean rebate isso, dizendo que os resultados da exposição excessiva dos jovens às mídias sociais não são inofensivos, não são pequenos, na verdade.
Ela cita uma pesquisa importante feita pelo Centro de Controle de Doenças nos Estados Unidos (CDC) com alunos do ensino médio, na qual foi encontrado que duas vezes mais usuários pesados de dispositivos eletrônicos, são os que usam cinco ou mais horas por dia de acesso à internet, em comparação com usuários leves que usam uma hora por dia, tentam o suicídio. Em porcentagem, isso significa 12% de suicídios nos usuários pesados de internet versus 6% nos usuários leves. O dobro de usuários pesados de smartphones tem baixo nível de bem-estar. O dobro de usuários de internet estão infelizes, e o dobro de mulheres que usam de forma exagerada as mídias sociais estão deprimidas. Isso não é pequeno, como o artigo do New York Times afirmou.
O artigo do New York Times cita especialistas que, sem evidências plausíveis, descartam a possibilidade de que o aumento das mídias sociais e smartphones possa estar por trás do aumento acentuado na depressão, automutilação e suicídio nos adolescentes nos últimos anos. A Dra. Jean comenta que em 2013 foi o primeiro ano em que a maioria dos americanos possuía smartphone. Em 2018, 95% dos adolescentes tinham acesso ao smartphone, e 45% disseram que estavam online quase constantemente. O período após 2012 também é quando o uso da mídia social passou de opcional para virtualmente obrigatório entre os adolescentes, e os maiores aumentos da automutilação, envenenamento e suicídio ocorreram entre meninas de 10 a 14 anos de idade.
No entanto, o uso da tecnologia difere por gênero. As meninas passam mais tempo nas redes sociais, que podem ser mais tóxicas do que os jogos mais populares entre os meninos. As ligações entre o tempo de tecnologia e o bem-estar também são mais fortes entre as meninas do que entre os meninos. Portanto, se a tecnologia está desempenhando um papel no aumento dos problemas de saúde mental dos adolescentes, os aumentos deveriam ser maiores entre as meninas, e são, conforme comenta a Dra. Jean em sua pesquisa.
No artigo do jornal New York Times, foi declarado que os pesquisadores que afirmam que o uso de tecnologia não está relacionado ao bem-estar e à saúde mental não receberam nenhum financiamento da indústria da tecnologia. Disseram isso. No entanto, a Dra. Jean disse que um dos pesquisadores é funcionário do Instituto Oxford Internet, que é financiado pelo Facebook, Google e Microsoft. Outro pesquisador também era, até há algum tempo atrás, ligado a instituição.
Então, o papel dos pais no controle dos filhos quanto ao uso de eletrônicos é crucial para o bem-estar das crianças e jovens, para o desempenho social, educacional e até espiritual. Segundo a Dra. Jean, os pais devem limitar o uso de tecnologia por parte dos filhos em cerca de 2 horas por dia, evitando o uso na hora de dormir. Difícil, né? Ela explica que os pais podem ter certeza de que seus instintos de proteger os filhos de muito tempo na tela dos eletrônicos não estão errados.
Ela faz uma comparação, dizendo que se as crianças que comeram cinco maçãs por dia ao invés de uma só tivessem duas vezes mais chances de tentar o suicídio, os pais se certificariam de que seus filhos não comessem muitas maçãs. Por que nossa resposta ao tempo de tecnologia deveria ser diferente, não é? Pense nisso. Proteja a si mesmo e, principalmente os seus filhos do uso excessivo de internet, seja no celular ou nas redes sociais. Isso é importante para a saúde mental sua e deles.
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Dr. Cesar Vasconcellos de Souza está trabalhando como psiquiatra e palestrante internacional. É autor de 3 livros, colunista da revista de saúde “Vida e Saúde” há 25 anos, e tem programa regular na TV “Novo Tempo”. Acesse mais conteudos no canal de Youtube.
Referências
↑1 | Popper N. Panicking About Your Kids’ Phones? New Research Says Don’t. The New York Times, Jan. 17, 2020 |
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↑2 | Twenge J. iGen: Por que as crianças de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas para vida adulta. Editora nVersos |
Linalva Machado Rego da Silva diz
Boa tarde! Realmente! É muito perigoso, pra quem tem filhos pequenos ,e adolescentes. Às minhas já são adultas. Não me deram trabalho e né me dão hoje.Graças à Deus. Mas posso ajudar outras pessoas com estas informações. Obrigada!🙋♂️🙏