Quanto tempo você tem gasto por dia nas redes sociais? Você já pensou em ficar dois dias sem acessar o computador? Você já conseguiu ficar nos últimos tempos, três dias sem ficar no seu videogame? Nós vamos tratar hoje de vícios eletrônicos.
Vamos dar uma olhada em alguns trabalhos científicos mais recentes, que têm mostrado como o vício, e especificamente os vícios eletrônicos, podem afetar o seu cérebro de uma maneira doentia. Você sabe que hoje já existem tratamentos específicos para pessoas que estão viciadas em internet, em redes sociais e videogames?
Vamos entender o que é um vício. A palavra técnica para vício, é adicção. Um adicto é uma pessoa viciada em alguma coisa, então, a adicção é tudo o que se torna um deus para você. Se você observar, aquilo em que você é viciado, que você cultua, torna-se um deus para você. O vício é aquilo, ou adicção é aquilo que domina seus pensamentos, domina seus sentimentos e influencia nas suas atitudes. Se a gente colocar uma definição científica de adicção, de vicio, podemos dizer que ela é como um modelo doentio do uso de substância ou outra coisa, que conduz à alterações importantes na sua saúde.
O vício separa a pessoa das suas emoções. Observe que, quando você para, ou tenta parar com alguma coisa que é o objeto da sua adicção, em seguida vem a ansiedade, a inquietude, o nervosismo, a insônia, a irritabilidade e a impaciência. O vício entorpece a razão e o sentimento.
Se você está viciado, pode ser no sexo, numa substância que seja legalizada como álcool, você certamente tem um entorpecimento, uma anestesia, um bloqueio de alguns raciocínios, de alguns pensamentos, de alguns sentimentos que você precisaria estar experimentando para ter uma conduta mais saudável. Então você usa uma substância, um produto, uma prática, no caso o vício em videogames, em redes sociais, em internet, e isso isso entorpece a sua emoção, e aí vem a dor, a culpa: “gastei muito tempo nisso aí!, poxa, deixei de lado meus filhos, cheguei atrasado no trabalho, gastei muito dinheiro porque quis comprar um equipamento mais poderoso, mais rápido!” Com a culpa vem o sentimento de desvalorização: “acho que eu não presto mesmo como ser humano! acho que não tem um jeito para mim!” e aí você sente mais angústia, mais tristeza, e pode pensar: “deixa eu entrar aqui na rede social de novo para ver se me alivio um pouco!” E você fica nesse ping-pong emocional doentio, num ciclo destrutivo.
Tipos de Vício
Todo vício, toda dependência, toda adicção, cria um ciclo destrutivo para a saúde, para a paz, para a felicidade e também para o bem estar das pessoas que estão ao seu redor. Existem vários tipos de agentes adictivos; ou seja, existem vários instrumentos, várias situações, várias práticas que podem produzir um vício na sua vida, não somente álcool, cocaína, maconha. Estamos tratando agora de internet, das redes sociais. Têm pessoas viciadas em trabalho, em sucesso, em gastar demais, em jogar, em acumular bens. Pessoas viciadas em controlar os outros, que têm uma atitude abusiva no trabalho, que são chefes e têm prazer em ter essa prática constante de ficar mandando nos outros e às vezes humilhando as pessoas. Isso é um vício, um distúrbio, uma alteração. Isso tem que ser tratado. Têm pessoas viciadas em comida, sexo, pedofilia, pornografia. Aliás, há uma epidemia de pornografia, de vício em pornografia.
Isso é um sintoma, o mundo está compulsivo. Compulsivo não em sentido positivo infelizmente, de ter compulsão de fazer uma coisa boa para a sociedade. O mundo está medicado, o mundo está anestesiado, o mundo está alterado, nas suas emoções, no seu raciocínio por conta de vários tipos de drogas.
Algumas pessoas têm vicio de dependência, de aprovação; uma necessidade de agradar. Estão sempre se anulando para ver se agrada alguém. Pessoas com papel de salvador, pessoas dependentes de relacionamentos tóxicos. O que é um relacionamento tóxico? É um relacionamento que faz mal pra você, que é ruim para você. Têm pessoas que casam com uma pessoa complicada, sofrem muito, separam, casa com outra pessoa complicada e acaba sofrendo muito de novo. Têm pessoas com mania de condicionamento físico, de cosméticos, roupas, de estética e cirurgia plástica. São pessoas que querem tentar aparentar estar bem por fora, enquanto por dentro não estão muito bem centradas. Pessoas viciadas em títulos acadêmicos, tem vários tipos aí.
Agora então existe um ciclo vicioso da adicção. A pessoa tem uma dor emocional, um desconforto emocional, alguma coisa que não está bem resolvida dentro dela, algum trauma. Não gosto dessa palavra porque dá a impressão que o sofrimento emocional tem a ver com trauma, enquanto na realidade é um conjunto de situações na vida, em geral dolorosas e difíceis, que vai desenvolvendo o sofrimento emocional da pessoa. Então ela tem uma dor, ela procura um agente para se livrar dessa dor; pode ser cocaína, maconha, sexo, pornografia, comida. Como falei, ela tem uma anestesia temporária dessa dor, depois ela pode ter consequências negativas. Vai depender realmente do tipo de objeto de adicção que está usando, mais destrutivo, menos destrutivo, e vai ter então finalmente vergonha, culpa, resulta em mais dor e diminuição do seu alto valor, ficando presa neste ciclo.
Efeitos da Adição em Eletrônicos
Alguns estudos mostram que muito tempo na internet infantilisa o cérebro. Está mostrando que pode produzir uma geração de jovens incapazes de pensar por si mesmos. Por qualquer coisinha eles acessam a internet: “vamos ver o que essa pessoa diz!” Vai acessar o site a b c ou d.
A Dra. Susan Greenfield, neurocientista da Universidade Oxford, diz o seguinte: O imediatismo das imagens na internet prejudica o desenvolvimento mental em crianças e adolescentes. São muito rápidas essas imagens, o cérebro da criança não está preparado para poder administrar tudo isso. Então é diferente das histórias contadas pelos pais antigamente, que sentavam na varanda de casa e contavam histórias disso e daquilo para as crianças, mas uma história que tinha princípio, meio e fim, tinha uma lição. Na internet, aquelas imagens com muita coisa virtual perturba a cabeça das crianças. Então essas histórias que os pais podem oferecer aos filhos; ajudam o cérebro a pensar em sequência, entender a causa e efeito, além da própria ligação afetiva que tem ali o pai e a mãe conversando com essa criança, interagindo em família.1)Greenfield S, “Excesso de internet pode criar geração de jovens incapazes de pensar por si próprios” Revista Ser Médico, Jan/Fev/Mar de 2012
Na Academia Chinesa de Ciências, um estudo científico muito interessante foi feito pelo cientista chamado Fuchun Lin, em 2012. Ele chegou à conclusão de que os jovens que navegam demais nas redes, apresentam mudanças cerebrais semelhantes àquelas verificadas em compulsivos por jogos de azar. 2)Lin F, Abnormal White Matter Integrity in Adolescents with Internet Addiction Disorder: A Tract-Based Spatial Statistics Study. Plos One, January 11, 2012. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0030253. Então você vê que o assunto é sério!
Na Universidade de Rochester, em um estudo feito em 2010 pela cientista Daphne Bavelier, chegou à conclusão de que há uma grande correlação entre o exagero no computador e anormalidades cerebrais.3)Bavelier D et.al. Children, Wired: For Better and for Worse. Neuron, Vol. 67, Issue 5, 9 September 2010. https://doi.org/10.1016/j.neuron.2010.08.035
O Que Fazer Quanto aos Vícios Eletrônicos?
O que você pode fazer se você está envolvido com isso, se você está viciado em eletrônica, rede social, não pode passar duas horas sem acessar e postar coisas? E se parar, vai sentir os sintomas da crise de abstinência, ansiedade, irritação, impaciência e nervosismo. Alguns perdem o apetite, outros, aumenta o apetite, vem a insônia. Vamos conversar um pouquinho. Se você tem filhos e não sabe como dosar essa questão, de colocar nas mãos deles esses eletrônicos? O que pode ser feito?
Primeiro é importante entender que toda a compulsão pode servir para alienar você e para esconder ou afastar você de perceber algumas necessidades interiores, de viver certas emoções, viver certos pensamentos, melhorar os relacionamentos em algumas áreas da sua vida. Se na família em que você vive existe esse problema de excesso de uso de eletrônicos, então é importante que a família como um todo procure soluções para isso. Não adianta você como pai, como mãe, que é viciado ou viciada em eletrônico querer dar lição de moral no seu filho e dizer: “para com isso, ou desliga isso, guarda aqui, me dá aqui, vou te tomar e tal!” Você também está viciado? Se não consegue largar seu eletrônico, como é que você vai cobrar isso do seu filho? Para consertar o excesso, o abuso de uso de eletrônicos que já pode caracterizar como uma adicção, um vício, é importante que você dê o exemplo.
Então essa família aonde tem um membro, talvez um jovem que está deixando os seus estudos porque fica gastando horas e madrugadas no seu computador no quarto, vendo sabe lá o que, mesmo que você tenha um controle parental ali conectado no computador, você precisa dar o exemplo. Então esse jovem, ou essa criança vai precisar ter um controle do tempo de uso. Você precisa colocar isso como pai, como mãe, e precisa ser firme; com amor, mas tem que ser firme. Se é uma criança pequena, não coloque eletrônico na mão dessa criança precocemente. Leve ao parque, a um brinquedo educativo, construtivo.
Os pais precisam dar o exemplo. Porque você, como pai ou mãe, pode até não ser viciado no eletrônico, mas pode ser viciado em outra coisa. Tem gente que chega em casa, cansada do trabalho e pensa assim: “ah meu dia foi tão estafante, deixa tomar uma dose de whisky para relaxar. Opa! Ou então: “Cadê meu tranquilizante, você viu minha caixa de remédio aí? Estou nervoso, quero tomar uma dose extra! O filho, ou a filha está vendo isso, está observando que você está dependente de alguma coisa para se sentir melhor.
Você pode permitir o acesso à internet para seus filhos, depois que eles realizarem algumas tarefas; tarefas de casa e da escola. Parece que hoje os pais se sentem culpados de distribuir tarefas em casa para os filhos. Querem dar tudo de mão beijada para essas crianças. Isso é uma deseducação. Numa casa, mesmo que seja uma casa de classe média ou rica, mesmo que tenha empregados, é importante que pai e mãe coloquem para seus filhos algumas tarefas simples: “você arruma o seu armário, você põe o lixo para fora, você tira a roupa do varal, você me ajuda aqui a descascar essa fruta para tomarmos o desjejum, porque a empregada não chegou ainda. Essa participação, essa colocação de limites, de dar tarefas para seus filhos, de todos participarem, é necessário. Isso não quer dizer que você vai ficar sentado na poltrona mandado: “vai lá e traga o meu café, vai fazer isso e aquilo!” Se você participa, então é isso vai ajudar na colocação de limites para os seus filhos, inclusive no uso da internet. Isso é um fator importante, porque quem manda em casa tem que ser o pai e a mãe.
Outra coisa importante que você pode fazer com seus filhos é mudar algum padrão do uso de eletrônicos, tipo: “olha só vai usar o computador depois de realizar uma tarefa de casa e da escola. Você só vai depois que tomar banho.” Pronto, está definido. Tem que conversar e explicar, e manter essa decisão firme. Não volte atrás. Agora, também não diga uma coisa que você não vai cumprir, senão você perde a moral. Eles vão ver que você diz uma coisa e não faz, ou abre mão com facilidade. Isto é diferente de você exercer autoritarismo; o que não deve existir na relação pais e filhos, uma ditadura emocional.
As crianças precisam de uma autoridade, por isso que Deus até colocou o mandamento: honrar pai e mãe. Alguns estudos científicos, analisando os jovens que foram criados em lares muito ditatoriais, comparados com os jovens criados em lares que eram muito liberais, mostraram que esses jovens lá na vida adulta tinham sofrimentos meio parecidos. Ou seja, as crianças criadas em lares muito ditatoriais, que nunca pode nada, tiveram sofrimento emocional na vida adulta importante, e também os jovens que podiam tudo na hora que queriam, também tiveram sofrimento emocional na vida adulta. Por quê? Porque os jovens adolescentes que tinham essa liberdade superficialmente, conscientemente falavam assim: “ah meu pai legal, minha mãe legal, deixam fazer o que eu quero”, mas no fundo eles sentiam assim: “será que eles ligam pra mim mesmo? será que eles se interessem por mim? Será que eles querem saber como está o meu mundo interior?” Interessante isso!
Se existe algum tipo de vício, você já percebeu que seu filho está muito dependente de um computador no quarto dele, você vai ter que tomar uma decisão e explicar para: “olha filho, vou colocar o computador na sala.” Especialmente se você observou que ele está escondendo algumas coisas, ou se você já viu que ele tem acessado alguns sites que são maléficos. É uma atitude até não ditatorial, porque você poderia até tirar o computador dele. Mas você está dando uma chance: “vou colocar na sala para você usar de maneira educativa, para coisas boas para você.” Porque na sala passa gente pra lá e pra cá, o que restringe o uso inadequado. Claro que existem programas que bloqueiam certos sites. Você pode usar também um timer: “olha, vou colocar aqui uma hora para você antes de você tomar banho, ou depois do banho”. Você pode usar essa estratégia.
É importante também pensar se não existe algum tipo de transtorno emocional que está levando essa pessoa a esse vício. Precisa de uma avaliação profissional. Têm pessoas que podem estar viciadas em pornografia, e então vão precisar de ter um tratamento especializado para lidar com isso e sair desse tipo de sofrimento.
A gente pode pensar: “Poxa, mas será que é uma coisa tão desatualizada que estou querendo passar para os meus filhos?” Porque as crianças hoje querem eletrônicos! Como fazer? Nunca vai poder dar? Essas pequenas não, mas as crianças com um pouco mais de idade você pode dosar. “Você vai brincar um pouco no quintal, um pouco no parque, vai subir em árvores, vai brincar na praia e vai ter um momento sozinho com o seu eletrônico”. Não é só, ou nunca com o eletrônico, mas não vai brincar com o eletrônico sem ter nenhuma atividade ao ar livre. Temos que pensar que o mundo virtual não substitui saudavelmente o mundo real. Então, proteja seus filhos de uma exposição exagerada aos eletrônicos. Criança pequena não precisa de celular. Eu queria terminar com o texto que está no livro de Lucas:
O povo também estava trazendo criancinhas para que Jesus tocasse nelas. Ao verem isso, os discípulos repreendiam aqueles que as tinham trazido. Mas Jesus chamou a si as crianças e disse: “Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas.”4)A Bíblia, Lucas 18:15,16 (Nova Versão Internacional)
Lucas 18:15.16
Cuide das suas crianças para que elas não tenham o cérebro lesado por exposição excessiva aos eletrônicos!
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Dr. Cesar Vasconcellos de Souza está trabalhando como psiquiatra e palestrante internacional. É autor de 3 livros, colunista da revista de saúde “Vida e Saúde” há 25 anos, e tem programa regular na TV “Novo Tempo”. Acesse mais conteudos no canal de Youtube.
Referências
↑1 | Greenfield S, “Excesso de internet pode criar geração de jovens incapazes de pensar por si próprios” Revista Ser Médico, Jan/Fev/Mar de 2012 |
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↑2 | Lin F, Abnormal White Matter Integrity in Adolescents with Internet Addiction Disorder: A Tract-Based Spatial Statistics Study. Plos One, January 11, 2012. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0030253 |
↑3 | Bavelier D et.al. Children, Wired: For Better and for Worse. Neuron, Vol. 67, Issue 5, 9 September 2010. https://doi.org/10.1016/j.neuron.2010.08.035 |
↑4 | A Bíblia, Lucas 18:15,16 (Nova Versão Internacional) |
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